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Reportagem - JORNAL i

Krav Maga. Um combate de proximidade que funciona quando o resto falha
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Imi Lichtenfeld começou a combater os nazis nas ruas da Checoslováquia. Era um grande atleta e lutador, e quando chegou a Israel começou a treinar os combatentes. Assim nasceu o Krav Maga, literalmente combate de proximidade

O Krav Maga para Pedro Jardim, câmara de televisão, começou uma noite de forma abrupta. Estava a chegar a casa de familiares, de carro, acompanhado pelo filho menor, quando assistiram a uma discussão entre dois jovens por causa de uma rapariga que estava presente. A discussão deu para o torto. Um sacou de uma navalha e apunhalou o outro. Pedro tentou apanhar o agressor, mas entretanto o jovem esvai-se em sangue até à morte no meio da rua. O filho de Pedro ficou traumatizado. A cena tinha-lhe criado medo. Um medo que não passava.


Falando com os médicos, aconselharam-no a inscrever o miúdo numa arte marcial. Tomou conhecimento de que em Almada tinha começado o Krav Maga. Falou com o mestre Pedro Costa, que lhe disse que não era possível. O Krav Maga era uma arte em que se ensinava até a matar, um conhecimento que uma criança não teria o discernimento para perceber. Mas depois de uma conversa ficou resolvido, o filho de Pedro poderia treinas desde que acompanhado pelo pai. E apenas técnicas para a sua idade.


A relação do Krav Maga com o mestre Pedro Costa, o praticante da arte marcial mais graduado da Europa, começou nas tropas especiais. Sempre teve muita curiosidade sobre ela, dado o prestígio militar das forças de elite israelitas. Ainda não havia internet, e dizia-se que era secreta. Quando ingressou na polícia, “os professores davam-nos livros para ler, e alguns versavam o Krav Maga”, relembra. Até que uma vez em conversa com um colega meu disse que gostava muito de praticar, e ele disse-me, que duas semanas antes, tinha aberto um ginásio na Margem Sul, com um uruguaio, o Pablo Caruso, que foi a primeira pessoa que deu Krav Maga em Portugal.


Nesse processo está envolvido o médico José Pereira da Silva, comando na guerra colonial, gravemente ferido, foi da segurança do PCP, que praticou boxe. “Foi ver um estágio em França e ficou de tal modo fascinado que mandou três funcionários dele tirar um curso de instrutores: entre eles o Pablo e uma senhora chamada Svetlana”, recorda.

Pedro Costa nunca tinha feito nenhuma arte marcial, na sua juventude tinha apenas praticado boxe. Quando começa a praticar a arte marcial israelita tem 25 anos. “Este Krav Maga que eu praticava estava ligado à federação europeia, dirigida pelo judeu francês Richard Douieb, que tinha sido militar em Israel.”


Em 2007 vai a Israel fazer um curso de segurança. “Apercebi-me então de que o Krav Maga que praticava não era bem o original de Israel.” Quis saber quais eram os alunos do Imi que continuavam a dar aulas. Em 2007 tem a oportunidade de fazer um seminário em Portugal com um deles, o Yaron Lichtenstein. “E não me arrependi. Foi a melhor decisão que tomei na vida: mudou-a 180 graus. Tenho tudo a agradecer ao Yaron”, confessa. Para Pedro Costa, o único Krav Maga, literalmente “combate próximo” em hebreu, é feito a partir dos ensinamentos de Imi, continuados por Yaron, 9.o dan de Krav Maga. Essa escola chama-se Bukan, que significa tradição.


Aqui o Krav Maga, que só nasce com esse nome em 1971, é igual ao que fazia o fundador. “Não precisamos de novos movimentos, aqui o Krav Maga é completo. Está bem como foi criado.” Há cerca de 800 praticantes de Bukan em Portugal. Aqui como na China, todos os graduados fizeram exame com o grande mestre Yaron.


É dia de treino de graduados e menos graduados neste ginásio de Almada. Todos se afadigam no aquecimento. Aqui os praticantes vão quase dos sete aos 77 anos. Vê-se um economista de 70 anos e três ou quatro pré-adolescentes. O Krav Maga na Bukan faz-se de quimono. A intenção é dar-lhe a dignidade que o seu fundador queria que tivesse, como a do judo, de que foi praticante.


A um aquecimento duro, mas já voltado para as técnicas que vão ser aplicadas, segue-se um conjunto de técnicas treinadas dois a dois. Esta noite treina-se contra facas e bastões.

O treino com bastões é fascinante. A primeira reacção de uma pessoa quando vê um bastão é fugir, e como decisão não é má. Mas podemos estar acompanhados ou não o poder fazer. Aí o Krav Maga dá-nos a solução contrária, mergulhar contra o opositor armado, diminuindo a distância e fazendo que a força de embate seja reduzida. Feito isso, trata-se de desarmar e neutralizar o oponente. O mestre vai dizendo: “O meu Krav Maga não é para quando me tiram a carteira, mas quando me querem tirar as calças aí funciona o Krav Maga.”


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